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Comecei a escrever contos no início dos anos 1970. Logo após retornar a Franca, recém-formado em arquitetura, usava meu tempo livre para escrever livremente memórias e coisas que ouvia. Leitor voraz desde que fui alfabetizado, leituras que incluiam histórias em quadrinhos, romances, jornais diários e enciclopédias que meus pais mantinham em casa. A vida de estudante na faculdade aumentou o gosto pela leitura. Usava o tempo da viagem de trem diariamente entre São Paulo e Mogi das Cruzes, onde estudava, para ler tudo que me caia nas mãos. Tive contato com a chamada imprensa nanica, de oposição à ditadura militar, o “Pasquim”, “Opinião” e outros jornais, assim como com a literatura do chamado “realismo mágico” latinoamericano, como os romances de Gabriel Garcia Márquez como “Cem anos de solidão”, Júlio Cortázar de “O jogo da amarelinha”, Eduardo Galeano de “As veias abertas da América Latina” e Vargas Llosa de “Tia Júlia e o escrevinhador”. Também li novos autores brasileiros à época, como Ignácio de Loyola Brandão de “Dentes ao sol”, José J. Veiga de “Os cavalinhos do platipanto”, Antônio Callado de “Quarup”, Lygia Fagundes Telles e muitos outros.
Em Franca, logo comecei a colaborar com o jornal “Diário da Franca”, foi minha escola inicial. Inicialmente publiquei histórias em quadrinhos, mas dali à ficção escrita, foi um pulo. Em 1976, conheci a revista “Escrita” dirigida por Wladyr Nader, onde havia um anúncio que aceitava publicar contos de autores iniciantes. Enviei um conto e, para minha surpresa, foi publicado. Em seguida, tive outro conto selecionado e publicado no livro “Assim Escrevem os Paulistas”, uma coletânea da editora Alfa-Ômega, o que me animou a continuar escrevendo, até surgir a oportunidade de publicar um livro inteiro pela Fundação Mário de Andrade da Prefeitura de Franca, intitulado “Vamos Pro Mundo”. Daí pra frente, não parei mais de escrever.
Continuei a publicar livros, muitos. Publiquei volumes de contos, novelas, arquitetura e urbanismo, história, crônicas, pesquisas científicas.
Olhando para trás, vejo como eram inacabados e experimentais muitos daqueles primeiros contos, porém importantes para achar um caminho próprio na literatura local. A intensa colaboração com a imprensa francana (escrevi em vários jornais e revistas locais) mudou minha maneira de escrever, cada vez mais concisa e na busca constante de elementos cômicos ou fantásticos no texto que fazem a vida ser menos trágica e um pouco mais leve.
No entanto, acho bom deixar algo muito claro: apesar da aparente dispersão de interesses e formatos, há um fio condutor na minha escrita. É a cidade de Franca. Sou um escritor que escreve e descreve minha aldeia, a cidade onde nasci, onde vivi praticamente todo o tempo e onde pretendo que minhas cinzas sejam espalhadas. Escrevi sobre suas mazelas, suas glórias, suas decepções, sua miséria, sua gente, sua arte, sua arquitetura, suas histórias obscuras ou nubladas pela distância dos anos. Agora que a cidade comemora seus duzentos anos de existência, digitalizar esses livros e colocá-los ao alcance de todos que se interessam por Franca e sua literatura é apenas mais um modo de homenagear e comemorar o tempo que escorre pelos séculos nesta cidade e sua gente.
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